quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Eles crescem rápido...

Meu Guri,

por Kalu.

Fui buscar a toalha e deixei meu pequeno a se banhar. Ele pegou o sabonete líquido, colocou na esponja, esfregou o corpo. Sua barriga outrora saliente, já se distribui num corpo esguio, com músculos definidos nas coxas e tórax. Ele retirou o sabão do corpo, aplicou uma pequena quantidade de shampoo, esfregou os cabelos. Passou condicionador e me chamou:

- Mãe, acabei o banho.

Parada na porta eu senti uma estranha sensação de descobrir que agora sou mãe de um menino. O bebê se foi como num passe de mágicas, sem deixar recado de onde está. Ainda me lembro do cheiro de leite do pescocinho regugitado. Do barulhinho que ele fazia procurando o peito, com aquela cabecinha sem firmeza. Como era delicioso aquele pacotinho habitando o sling que matava a saudade do ventre cheio.

Lembro da primeira vez que virou no trocador e quase caiu, matando a mamãe de susto. Das primeiras lagartixadas pelo chão, do engatinhar, dos primeiros passos, das primeiras palavras. Lembro como o mundo andava devagar. Parecia que ele nunca iria dormir sozinho, que nunca comeria sozinho, que nunca brincaria sozinho.

Em alguns momentos em que me sentia apenas dois pares de peito, parecia que o mundo pulsava em novidade, enquanto eu estava parada. Mas ao ouvir aquela risada gostosa, ao acompanhar cada doce conquista, eu me lembrava do mantra da maternidade: Isso passa. E passa rápido demais

Tão rápido que um dia, você vê seu menino comendo sozinho, na mesa com você, contando casos engraçados e sente falta do tempo que comia comida fria. Ou ainda consegue ter humor de lembrar que bastava colocar a comida no prato para o pequenino acordar. Perdi as contas de quantos almoços fizemos juntos: ele no sling e eu desenvolvendo habilidades excepcionais a comer com a mão esquerda.

Hoje vendo meu menino doce, amoroso, seguro e feliz tenho a certeza que fiz as escolhas certas. Respeitar o tempo de dependência dele trouxe uma leveza a minha maternagem e para sua vida como um ser humano íntegro. Só eu sei como tive que fechar os ouvidos da palpitaria do mundo para ouvir meu próprio coração. Como tive que dissolver paradigmas internos de bebe dependente que faz birra e é apegado demais ou que dormir junto com a cria atrapalha a sexualidade e individualidade da criança.


Teorias estão aí para serem lidas, mas o verdadeiro caminho, acredito, está no coração. E segui-lo trouxe frutos doces que transformaram profundamente a mim mesma.

Hoje leio um livro enquanto meu filho brinca ao meu lado. Durmo a noite toda na minha cama e sou acordada pela manhã com uma mãozinha gordinha a me acariciar a face e ver, como numa visão angelical, cabelos desarrumados e aquele bafinho gostoso da manhã. Ver meu pequeno feliz, tranqüilo, inteligente, solicito, obediente, questionador fez valer a penas todas as noites que passei ao seu lado, minha escolha por meu encolhimento profissional para estar mais tempo ao seu lado, minha brigada para permanecer firmes em minhas ideologias diante de um mundo que exige mulheres no mercado de trabalho, crianças precocemente independentes.

Ontem, no carro, enquanto esperávamos meu marido comprar pão, tocava no rádio “Amor de Índio”. Meu filho, me olhava com olhos apaixonados, me acariciava e abraçava em uma expressão incrível de um amor sem medida. Foi uma cena linda, daquelas que a gente guarda dentro da gente, para lembrar para sempre. Eu repetia interiormente, em gratidão – Tudo que move é sagrado. Sim todo amor é sagrado.
 
Postado por Marla, mamãe de Pietro e Mari na G1F