quinta-feira, 6 de março de 2014

Alimentação de bebês

Não devemos tirar da criança o prazer de descobrir como comer, e até o prazer de brincar com a comida.

A criança come por prazer e para satisfazer uma necessidade básica: a  fome. Mas algumas olham para o prato de comida sem demonstrar interesse, como  uma obrigação difícil de cumprir, exigindo da mãe muita inventividade e paciência para fazer com que ela aceite comer   qualquer coisa. Por quê? Porque, em algum momento do seu desenvolvimento normal,   perturbaram a sua satisfação de comer.
Isso pode acontecer de muitos modos.

Bebês raramente recusam  comida e é sempre evidente o prazer que eles têm mamando. A não ser  por doença, bebês têm sempre apetite e  comem prazerosamente. 
O  adulto é que costuma interferir   no hábito  que a criança tem de comer  e beber com prazer, criando   problemas  para a alimentação da criança  pequena.

A falta de apetite (anorexia) ocorre geralmente quando a criança tem   entre 1 e 3 anos. As causas mais freqüentes:
Falta  de percepção da mãe. A criança com 1 ano   tem apetite muito  menor  que o bebê. É uma programação   genética. No primeiro ano de  vida o  bebê triplica de peso. Entre   1 e 2 anos precisa aumentar de  peso  apenas 20% (passa de aproximadamente 10   quilos para 12. Há  meses em  que não aumenta de peso e isso é   normal, mas as mães,  habituadas com  o crescimento do bebê, pensam   logo em doença e  forçam a  alimentação. É   um erro, que pode provocar reação. E quanto  maior for  a insistência   da mãe, mais a criança se sente agredida e  mais vai  reagir, até   recusar-se a comer.
Quando essa mesma criança, na puberdade, precisar comer mais e realmente   passar a fazê-lo, a mãe provavelmente vai criticar.

Quando  a preocupação da mãe é muito grande, alguns   médicos  chegam a  receitar um tônico, um remédio para aumentar   o apetite da  criança. É  um erro, porque a receita vai aumentar   na mãe a  convicção de que a  falta de apetite é uma   doença. De mais a mais,  muitos dos  estimuladores de apetite são   perigosos, provocam  hipoglicemia,  sonolência ou agitação.   Nenhum livro sério de  medicina recomenda  esse tipo de remédio,   mas eles são muito  prescritos e vendidos no  Brasil.
Outro problema é que os resfriados e as gripes são muito  comuns    nesse período, e eles fazem diminuir o apetite. Quando a  criança    fica curada, depois de três a sete dias, ela tem fome acima  do  habitual,   durante alguns dias. É uma compensação, para que ela   recupere   rapidamente o que perdeu, e logo ela volta ao apetite   habitual.

Também é uma fase em que algumas crianças  movimentam-se   pouco,  principalmente as que são extremamente  entregues aos cuidados   da  televisão. A criança nessa idade deve ter a  oportunidade de   viver  ao ar livre, de correr, jogar bola, praticar  exercícios físicos.   Aí  sim ela tem fome. Mas sedentária, sentada  diante da televisão,   não  só vai comer menos como vai querer comer  aquelas coisas anunciadas    na tevê, geralmente as menos interessantes  como alimentação    infantil.

Crianças pequenas, mesmo sem  capacidade de fazer os movimentos  necessários   para recolher a comida  com a colher e leva-la à boca (o  que exige controle   fino dos  movimentos), querem comer sozinhas.  Isso deve ser incentivado, mesmo   que elas façam muita sujeira.  Alimentar-se sem a ajuda do adulto  significa,   em um primeiro  momento, deixar que a criança meta a mão  no prato,   que se lambuze,  que faça sujeira, e poucos adultos tem  paciência   para aturar. Eles  querem que ela coma o que lhe dão na  boca ou que, como   em um  passe  de mágica, aprenda logo a segurar a  colher direitinho e controle    seus movimentos em direção à boca. Mais  ainda: querem que   ela  seja  rápida e que não deixe cair comida.

Comer  sozinha é uma conquista importante para a criança, e não    só do  ponto de vista do desenvolvimento da sua capacidade manual. Comer     pela própria mão é o começo da autonomia, da independência,   da  sua  afirmação como pessoa. E é um prazer. Pois é   exatamente  esse  prazer  que a maioria dos pais nega a seus filhos.

Se a criança é  reprimida, não tem liberdade, e se insistem   em  dar comida na sua  boca, os pais estão tirando também o prazer   e a  aventura de comer.  Se, além disso, a obrigam a comer do que não    gosta, ela não pode  mesmo ter prazer com a refeição e vamos   começar  a ter problemas na  hora da comida porque é bem provável   que,  nesse  caso, se  desinteresse pelo prato e até se recuse a comer,   pelo  menos na hora  em que a mãe quer que coma.

Quando a criança demonstra interesse  e vontade de comer sozinha,  deve   ser incentivada e não ser  reprimida. E se quer comer com as  mãos,   que coma, porque isso dá a  ela muito prazer (como a nós, com  determinados   pratos). Podemos,  gradativamente, ir desencorajando a  criança de comer   com as mãos,  educando-a e fazendo com que ela  entenda que certas coisas   podem e  até devem ser comidas com o uso  das mãos, mas que os talheres   foram  criados para não sujarmos as  mãos.

Cuidado: não insista muito no  assunto limpeza, porque a preocupação    excessiva com a sujeira pode  tirar o prazer que a criança tem ao  comer.   Como escrevia Rubem  Braga, comer manga com garfo e faca,  civilizadamente, não   dá prazer.  "Manga come-se com as mãos, e  quanto mais lambuzada   a boca, maior o  prazer".

Uma criança pequena não pode "comer como gente grande" e a fase da sujeira vai passar, naturalmente, à medida que ela  ganha    controle sobre os movimentos e vê como é que a família se   porta à  mesa. Se ela quer comer sozinha é que já está  intelectualmente  madura para isso. Impedi-la de comer pelos seus  próprios esforços é retardar seu desenvolvimento. E se você não  tem certeza de que  dar  de comer na boca pode tirar o prazer da comida,  faça   a  experiência: espere estar com fome, escolha um prato de que  goste muito  e, na hora de comer, faça com que suas mãos sejam  amarradas e    que alguém lhe dê de comer na boca. Uma grande parte do  prazer   de  comer estará perdido.

Não devemos tirar da criança  o prazer de descobrir como comer,   e  até o prazer de brincar com a  comida. Quando vovó dizia que    "comida não é brinquedo" não tinha a  informação   que temos hoje. A  criança que tem mais liberdade, que faz  mais sujeira,   que brinca  mais, aprende mais cedo a comer direito,  porque praticou mais. E,    não sendo reprimida, não perdeu o prazer de  comer, que é   um dos  maiores prazeres da vida.

Quando não  come, a criança pequena não está apenas   recusando o  alimento. A  comida, para ela, é um símbolo e ela não   quer a comida  porque também  não quer aceitar a tirania, a imposição,   a  limitação,  e quer de  volta o prazer de comer. Se a mãe   insiste, a  criança  aumenta a  resistência e rejeita não só   a comida, mas a  própria mãe.  As mães,  talvez por instinto,   sentem isso; daí a  angústia que  passam quando a  criança   não quer comer ou resiste à  comida.

O pior acontece  quando pais autoritários obrigam a criança a comer, a "engolir  tudo", sob ameaça de castigo e até   de pancada.  Podem resolver o  problema do momento, mas estão criando outros, maiores. Inclusive  porque essa comida não faz bem à criança.   Em  alguns casos ela chega à  vomitar.

Quando a criança percebe que há uma crise, quando os  pais ficam    angustiados e demonstram sua agonia, quando a hora da  comida passa a  ser um   drama familiar, a criança dificilmente vence  essa fase. Ao  contrário,   o problema pode fixar-se perigosamente, até  porque a  criança aprende   a usar a comida como uma arma, como  instrumento  para levar vantagem, criando   uma relação familiar muito  ruim. Assim  como o adulto não   deve chantagear a criança, não deve  dar  oportunidade para que   ela o chantageie.

Ameaças,  castigos, prêmios e promessas, gracinhas e brincadeiras,    tudo serve  para encobrir, para disfarçar o problema, mas não resolve    a  situação. O que resolve é dar liberdade à criança   e, se a  crise já  está instalada, deixar que a criança resolva   por si mesma.  Quando a  criança percebe a ansiedade dos adultos em relação   à  comida, já não  vê o que come como um prazer e passa   a associar  comer com dever, uma  obrigação capaz de levar os adultos   aos papéis  mais ridículos e até  a violência para   fazê-la engolir. É evidente  que isso só traz  prejuízos.

Por outro lado, elogios exagerados à criança que  comeu tudo podem levá-la a imaginar que só será amada se limpar o  prato   todas as  vezes, o que provoca angústia e talvez faça com que  coma   demais,  para ser mais amada.

Quando a inapetência ou a  voracidade tem origem emocional, a  primeira   coisa a fazer é quebrar a  tensão e a angústia que  perturbam   a criança. Nada de drama, de  forçá-la, de castigá-la,    de chantageá-la ou de suborná-la, porque só  vamos agravar   o  problema, um problema que geralmente não existe e  que os adultos é    que criam para as crianças.
Em raros casos a  crise pode chegar a um ponto que impeça a criança    de comer. Aí, só o  atendimento especializado de um psiquiatra    pode resolver o problema  da criança e dos pais.

Há mães que resolvem fortalecer o  alimento, influenciadas  principalmente   pela publicidade. E tome  achocolatado no leite,  sorvetes com cobertura especial   e sucos com  aditivos. Como a  criança gosta dessas coisas e seu apetite   não  aumentou, pode acabar  reduzindo sua alimentação a apenas   isso. É  possível que engorde,  mas vai ficar carente de sais minerais,   de  vitaminas e de outros  elementos nutritivos, evidentemente prejudicada no   seu  desenvolvimento normal.

Outras cuidam de dar  suplementos protéicos e vitaminas, geralmente  misturados   ao leite.  Ou reforçam o leite de vaca com leite em pó. O  resultado   é que, como  defesa do organismo contra o excesso de  proteína,   a criança não vai  suportar comer carne e isso criará  problemas   para ela. Além disso, o  excesso de vitamina pode  intoxicar e tirar o   apetite.
A  hora de comer deve ser tranqüila, sem dramas ou comédias, sem  tensão, bate-boca ou cara feia. Amor, liberdade, respeito ao paladar     e ao prazer de comer, ao direito de aprender e comer sozinha e de   relacionar-se   com a comida, tudo isso ajuda a criança a não ter   problema na   hora das refeições.

Se seu filho está dentro do  padrão de crescimento esperado para   a  sua idade e para a estatura  dos pais, não invente, não se preocupe,    deixe a criança comer em  paz. A criança que não tem doença,   que  tem todos os alimentos à  disposição, filha de pais   baixos, é  baixa e  come menos porque é  assim que está geneticamente   programada. Ela  come pouco porque é  baixa, e não o contrário.   É  diferente da  criança pobre, que come  pouco e que pode ficar   baixa  por conta da  miséria, da falta de  comida e não da programação   genética.

No mais, mesmo  preocupada porque a criança não come, não   aumente  a crise: comer é  uma necessidade básica e o instinto de    sobrevivência da criança é  tão forte que ela normalmente   não corre  perigo e em algum momento  vai se alimentar, assim que estiver   livre  de pressão ou distante dos  pais. Como se dizia antigamente, quem    não come é porque já comeu ou  ainda vai comer.

Denise Donadio Castilho
Fontes:
 http://guiadobebe.uol.com.br/comendo-sozinha/

http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2013/09/nao-devemos-tirar-da-crianca-o-prazer.html

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